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Entrevista com o presidente da ACI Games, Moacyr Alves

Nessa entrevista com o presidente da ACI Games, você confere mais dados sobre as políticas de garantia e de direitos do usuário.

Autor: Redação Impacta

Presidente da ACI Games (Associação Comercial, Industrial e Cultural dos Jogos Eletrônicos do Brasil) e coordenador do curso Jogos Digitais da Faculdade Impacta, Moacyr Alves recebeu uma carta de indicação, sendo convidado pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação, do Ministério da Justiça, para integrar o time de autores do segundo volume do livro “Classificação Indicativa no Brasil: perspectivas e desafios”, uma coletânea de artigos sob diferentes óticas acerca da política de proteção à criança e ao adolescente. 

Nessa publicação, Moacyr dissertará sobre a política de classificação indicativa para games no Brasil e seu papel na garantia e manutenção dos direitos dos usuários de todas as idades, mas principalmente crianças e adolescentes.

Acompanhando essa grande notícia, entrevistamos o Moacyr, e o resultado vocês conferem a seguir:

Blog Impacta: Moacyr, primeiramente, parabéns pelo convite! Acredito que seja uma honra muito grande ter seu trabalho reconhecido e creditado pelo Governo Federal. A minha primeira pergunta tem a ver com o recebimento dessa notícia: essa é a primeira vez que você é convidado a participar desse tipo de publicação? A notícia veio de surpresa ou já havia conversas acontecendo?

Moacyr Alves: Veio de surpresa! Não tinha a mínima ideia que isso poderia acontecer e, claro, fiquei muito feliz com o convite. É de fato uma honra participar de um artigo para o Ministério da Justiça, ainda mais sendo sobre a classificação indicativa, uma equipe do governo pela qual tenho um carinho especial.

BI: Você pode falar um pouco sobre esse projeto? O que ele abordará e quem é o seu público alvo?

MA: É um artigo que fala sobre a visão comercial da classificação indicativa. Nele comento sobre a responsabilidade, muitas vezes negligenciada, dos comerciantes sobre este órgão do governo (responsável pela classificação indicativa).

Muitas vezes ela é utilizada apenas quando algo de ruim acontece, por exemplo, como no caso do garoto que assassinou os pais policiais em São Paulo. Lembro-me que uma das primeiras coisas que a mídia disse foi que a culpa era do “jogo violento” (N.E.: O garoto se declarava fã do jogo Assassin’s Creed.), uma coisa que não tem lógica.

O mais engraçado é que me lembro claramente que a primeira coisa que o apresentador na televisão fez quando mostrou o jogo foi esconder a sua classificação indicativa, que, claro, era para 18 anos.

É disso que eu falo no artigo, dessa negligência que temos com algo tão importante quanto a classificação indicativa. É muito válido tratar desse assunto.

O público que quis alcançar foi justamente os pais, para chamar a atenção deles pois, segundo uma pesquisa da associação (ACI) de anos atrás, 95% das pessoas ignoram a classificação indicativa na hora da compra de um produto.

BI: Sobre sua carreira, conte-nos um pouco de sua experiência até aqui.

MA: Comecei mesmo sendo um apaixonado por jogos. Foi quando minha mãe me presenteou com meu primeiro vídeo game, o Dactar, no qual eu usava os cartuchos do Atari, que começou minha paixão por games.

Daí não parei mais de jogar e passei também a colecionar. Porém, logo no começo da coleção me deparei com o primeiro grande problema: os preços. Os jogos eram todos importados. Foi quando pensei comigo mesmo: “Tenho que bolar um jeito de comprar aqui no Brasil com preços mais justos.”

Aí foi que nasceu a semente do que no futuro viria a se tornar o projeto “Jogo Justo”, que desde sua concepção tenho andado praticamente pelo mundo todo falando do Brasil, de suas oportunidades e dos nossos desafios nessa área.

BI: Como você enxerga o cenário atual de games no Brasil? E como você enxerga esse cenário em relação ao mundial?

MA: Atualmente, temos duas vertentes no Brasil no cenário de games. Uma é a parte da venda dos jogos físicos (consoles). Nessa área há um desafio tremendo, o governo não ajuda em nada, e pior, atrapalha e muito com esses impostos fora do normal.

Já no cenário de desenvolvimento, estamos melhorando muito. Porém, em passos lentos, pois, novamente, o governo não enxerga o potencial deles na economia criativa. Enquanto isso, outros países estão anos-luz de nós. Um país bem próximo que posso citar como exemplo é a Colômbia. Participamos duas vezes da “Rodada de Negócios” da Colômbia e eles estão anos-luz adiante de nós. Aquele é um evento que teríamos que usar como exemplo para nossos desenvolvedores de games.

Mas o bom disso no Brasil é que estamos crescendo e muito em cursos de jogos e, pra mim, o melhor exemplo foi o curso da Faculdade Impacta.

Quando fui chamado para ser o coordenador do curso, nunca imaginei que tantas pessoas iriam se inscrever na faculdade. Pensamos que a sala começaria com 20 alunos e temos hoje 42 alunos fazendo Jogos Digitais.

Fui uma grande emoção entrar na sala de aula e vê-la completamente cheia. Esse interesse demonstra o quanto os jovens estão interessados em aprender mais. Se por um lado não temos como esperar muito do governo e sua falta de entendimento sobre o assunto, olhando pelo lado dos alunos me encho de esperança para este setor.

BI: Para aqueles que desejam entrar na área, mas não sabem por onde começar, quais seus conselhos?

MA: Primeiramente, ter foco no que quer fazer. Games é uma área que abrange muitas coisas, como serious games, casual games, hardcore games, games para tablets, etc. A pessoa tem que escolher um segmento e focar. Hoje é muito difícil se achar bons profissionais especializados no mercado.

E claro, fazer o máximo de estudo possível no ramo.

BI: Voltando ao livro que será publicado pelo Ministério da Justiça, eu enxergo essa ação como um reconhecimento, mesmo que tardio em relação a países desenvolvidos como os Estados Unidos e o Japão, do governo sobre o papel educativo, social e econômico dos jogos eletrônicos. Somando isso às duas perguntas anteriores, em sua opinião quais são os próximos passos a serem dados em relação à games no Brasil? Como o profissional deve se preparar para encarar essas demandas?

MA: Eu sempre elogiei o trabalho do Ministério da Justiça neste quesito e posso dizer que eles são os mais eficientes do governo. Tanto é que a classificação indicativa automática está aí graças ao pessoal do MJ.

Já quanto ao papel educativo e socioeconômico, nesse sentido digo que estamos parados – e quase que totalmente. Hoje em dia, o profissional daqui não se prepara para o Brasil e sim para fora dele. Eles não esperam muito do governo, porque o governo até hoje não entende o que é um game.

Eles não sabem se game é um brinquedo ou um software – e claro que é o último.  O governo não tem ideia do quanto de física é aplicada em games, o quanto de matemática eles contém.

Eu espero de coração que um dia eles entendam e apoiem este setor. Basta ver o quanto outros países crescem nesse setor e o quanto ele emprega. Se o governo fizer a lição de casa, um dia poderemos chegar à cola desses países.

BI: Obrigado, Moacyr! Novamente, parabéns e muito sucesso nesse projeto!

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